segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O músico que ficou surdo.

Havia um homem de 35 anos que vivera a vida toda em função de música. Ele escutava música o tempo todo, mesmo dormindo. Ele aprendeu a tocar 10 instrumentos antes dos 15 anos e começou a dar aula aos 16. Formou-se em música por uma faculdade da cidade dele. A mulher dele era professora de canto e formavam uma dupla que tocava em alguns barzinhos da cidade durante algumas noites da semana. A vida, para ele, não poderia ser mais completa. A vida era sua música favorita, desde que ele pudesse viver da música e com a música.
Só que, e eu odeio essa parte, um dia houve um acidente e ele perdeu a audição. Passou 5 dias sem falar com ninguém, sem querer ver ninguém. Enquanto não dormia, chorava. Enquanto dormia, sonhava que chorava, acordava e chorava. A vida, mesmo tendo ainda sua esposa, havia terminado para ele. Tudo perdera o sentido.
Depois de 1 ano tentando reanimá-lo e fazê-lo seguir com a vida, a mulher dele optou por separação. Ele não dava atenção para ela. Ele não queria mais nada com ela. Nem olhar, ele olhava para ela.
Sua vida se tornou um vai e vem cheio de dívidas. Vendeu sua parte da escola para a ex-mulher. Vendeu seus instrumentos para ela. Vendeu então CD’s, DVD’s, discos e tudo mais que se relacionava a música. Dois anos depois começou a viver na rua. Sobrevivia de esmolas ou do lixo. Dormia em casas para desabrigados e, se tinha dinheiro, comia em restaurantes populares. Mas algo em sua vida se mantinha igual: todos os dias ele passava na frente da antiga escola de música e observava os estudantes. Olhava pela vitrine e, como apaixonado, focava os instrumentos. Não podia tocá-los. Não queria tocá-los. Mesmo que os tocasse da forma certa, não ouviria o som. Mesmo que os tivesse junto a si, não ia ser do jeito que ele queria.
Mas ele ia lá, todos os dias.

Era como tortura.

Mas a paixão era maior que a dor.

Ele olhava os instrumentos. Isto era tudo que ele podia fazer.



Para alguns um tudo miserável, para ele o tudo de um rei.

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