sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Don't go...

Esta é a continuação, a primeira parte você pode ler clicando aqui.

- Nós já falamos nisso Muriel.
- Você já falou nisso, eu apenas…

Então fui interrompido pelo toque do celular dela.

- Alô.

Fiquei mudo enquanto ela trocava apenas monossílabos com alguma pessoa que estava do outro lado da linha. A conversa não durou muito e ela logo voltou a perguntar.

- Desculpa, amo… Muriel. Era do aeroporto, cancelaram meu voo para San Diego por
causa da chuva. Aparentemente vou ter de passar mais um dia no hotel. Mas, diga, você apenas..?

Me perdi em pensamentos, como de costume e já não lembrava mais o que queria dizer.

- Não…
- Não lembra mais? – Ela deu uma breve risada – Você nunca vai mudar, vai?
- Pelo que vejo, não…

Falei sincero e meio constrangido. Claro que eu sabia que em algumas horas, quando
fosse tarde de mais, eu lembraria o que queria dizer.

- Então vou indo…
- Espera, Dai!

Segurei-a rapidamente pela alça da mala antes que ela saísse pela porta.
Ela se virou e eu olhei envergonhado para o chão.

- Você… você pode passar a noite aqui. Não precisa gastar mais uma noite com hotel.
Aliás, não precisava ter gastado nas últimas cinco. Eu durmo aqui em baixo, na sala, e você lá em cima, no nosso… no quarto.

Eu ainda segurava a alça da mala enquanto olhava para o chão.

- Não sei se daria certo, Muriel. Não quero fazer com que passe por isso.
- Não fale assim, essa casa é nossa e você pode dormir nela. Você pode morar nela…

Novamente, a última das duas frases saiu mais baixa.
Ela respirou fundo e me olhou.

- Em primeiro lugar, largue a minha mala.

Eu larguei.

- Em segundo lugar, olhe para mim quando falar comigo, não precisa ter vergonha.

Eu a olhei nos olhos.

- Muito bem.
- Então, vai ficar?

Falei com certa empolgação.

- Só essa noite, não se empolgue; amanhã, logo que me ligarem do aeroporto, eu vou embora.
- Tudo bem, eu entendo.
- Está tudo no caminhão, senhor.

Falou a voz grossa de antes. Impressionante como não notei os quatro grandes garotos do lado de fora, que carregaram tudo pro caminhão, entrando e saindo da casa.

- Muito obrigada. – Respondeu Dai – O pagamento eu acerto quando receber tudo em San Diego, certo?
- Sim, senhora.Tudo certo, vamos indo então. Tenham um ótimo dia.

O senhor subiu no caminhão enquanto dois dos quatro garotos sentavam na cabine junto com ele e outros dois subiam na caçamba.
Logo que eles partiram, eu voltei a falar com ela.

- Bom, ainda são duas da tarde, o que planeja fazer?
- Eu não sei, mas você precisa buscar o Heracles no veterinário.

Heracles era nosso cachorro de estimação, um são bernardo de cinco meses que havíamos ganhado de um amigo quando mudamos para a nova casa.

- É mesmo, quase esqueci que levei ele lá hoje cedo.
- O que você não esquece Riel?
- Minha cabeça, pois está grudada no pescoço, como você mesma diria.

Falei com certo tom de deboxe.
Ela riu por alguns instantes.

- Vem comigo buscar o Heracles? Ele vai gostar de te ver após cinco dias ausente.
- Claro, eu também vou gostar de vê-lo, amo muito ele.
- O nosso filho…

Falei baixo lembrando as palavras que saíram da boca da própria Dai cerca de 5 mêses antes do atual.
- Eu vou voltar para essa cidade casualmente e virei vê-lo, ele não precisa ficar triste.

Segurei-me para não pedir o que seria de mim ao invés dela se preocupar com o cachorro.

~Continuação.